João Condinho
O Abutre e o Engenheiro
Andava o abutre a rondar a casa arruinada à espera do seu abandono definitivo. Mas o raio do jardineiro que, com o seu filho, eram os únicos habitantes da casa, teimava em não morrer. Um dia o jardineiro morreu, deixando o seu filho desempregado com uma ordem de despejo. Um engenheiro, com gosto pelas moradias à moda antiga e que por ali passava, viu o abutre prestes a descer sobre a casa. Alguma coisa tinha que fazer, o bom do engenheiro, para salvar aquela casa da voracidade do abutre! Lembrou-se do motor do carrossel abandonado perto dali e ainda capaz de funcionar; se o montasse dentro da casa, o simples barulho seria o suficiente para manter o abutre afastado.
Mas como conseguir manter o motor permanentemente a funcionar? Não tinha vida para ficar ali preso a alimentar um motor. Pensou então, fazendo uso do seu sentido económico, recuperar todo o carrossel e montá-lo inteiro dentro da casa. Como este não cabia, foi montado no sótão (e preservada a fachada). O seu funcionamento seria garantido pela receita de bilheteira. O filho do jardineiro prontificou-se a sair do desemprego para tomar conta do carrossel. A partir daí, todos os dias o filho do jardineiro empurrava a alavanca que punha o carrossel em movimento, para os primeiros clientes da manhã.
Com efeito, muitos cidadãos passaram a encontrar nesta casa o local ideal para os seus momentos de lazer.
(é um desses momentos que o desenho procura representar)
Hoje em dia a casa tornou-se uma atração turística, o filho do jardineiro já não tem tempo para cultivar o seu jardim e a comissão de moradores contesta a estética do edifício.
Mas o abutre, para já, desistiu.
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