Carlos Júlio & Vanda Ecm
A Ciranda de Janus | Canto da Ciranda
Tudo se define no intervalo.
Esse espaço das horas serem escolhas, onde qualquer
porta pode ser a transição entre o explícito e o implícito.
Falamos de um local onde as coisas se desfazem em pó –
as que passaram, as que vão estar na origem do que está
por vir, num ciclo sem fim em que a ruína será depois a
construção ou a reconstrução.
Partimos da imagem desse deus romano (ou etrusco)
que simbolizou a dualidade de todas coisas e simultane-
amente do caos Hieraclitiano; agitámos levemente o ar e
comprometemos (talvez) o universo. Para o demonstrar,
foi criado um engenho, representação metonímica e ma-
terial deste “ciclo eterno das mudáveis coisas”.
É um aparelho de construção baseado num sistema de biela-manive-
la que faz bascular uma padiola com esferas cerâmicas rolantes entre
argila (não bíblica). Foi concebido com o propósito de apresentar
produtividade nula, exigindo, porém, do visitante-manobrador, um
esforço muscular continuado, dado que só funciona enquanto se
mantiver pressionado o botão de comando. O funcionamento do
aparelho resume-se a joeirar entulho através de um crivo, apartan-
do a tralha do passado da matéria-prima das construções futuras.
É sobretudo um aparelho de construção do tempo, onde o tempo
construído é um tempo multi-sensorial percepcionado pela tensão
incomodativa do polegar sobre o manípulo (tacto), pela cadência
ritmada das esferas rolantes (audição) e pelo amontoar cónico, qual
ampulheta, da matéria joeirada (visão).
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