
Luís Campos, série Transurbana
"Do Banal, do Cómico e do Trágico":
«(...) Na peça da série Transurbana, um enorme tríptico fotográfico em cujo centro se encontra em pose expectante um rapaz envolvido numa típica paisagem suburbana, também não se pretende a simples realização de um retrato. Quando muito, este seria um retrato “expandido”, no sentido em que através dele se propusesse uma leitura de uma realidade mais ampla, de cariz sociológico ou político. Neste caso não se trata o tema da morte, embora se possa falar aqui de uma morte metafórica: a morte da autonomia individual, da capacidade de libertação de um contexto asfixiante. Este parece ser o dado mais relevante desta imagem: aquele ser humano está demasiado preso à paisagem e, por seu turno, aquela paisagem ganha sentido com a presença humana. A centralidade da presença humana serve, mais uma vez, essencialmente para interpelar com maior veemência o espectador. Somos praticamente convidados a entrar na paisagem, a partilhar uma realidade que nos será estranha, a partilhar uma história individual que não conseguimos desvendar, mas que todos conhecemos, apesar de tudo, demasiado bem. O trágico, em termos visuais, traduz-se eminentemente pela capacidade de uma imagem conter em si um desenvolvimento potencial, ainda que este não desemboque numa solução final».
[Miguel von Hafe Pérez in “Do Banal, Do Cómico e do Trágico”, Fundação Cupertino de Miranda, Maio/Junho 1988].
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