
Saíram e esqueceram-se da janela escancarada. Também se esqueceram de voltar para a fechar. Olvidaram o vento, as bátegas, o granizo e a geada, porque por aqui não neva e não acrescenta ao esquecimento. Porém em nada o reduz, como não o serena as suaves soalheiras do verão. Como Hera, vai infiltrando os frisos e as cornijas, separando as couceiras, espreitando as fendas da gelosia e cobrindo o fuste e o capitel das pilastras ornamentais. Trepa ao parapeito e insinua-se no interior abandonado vazio e tentará instalar-se no lugar da memória. Mas o esquecimento apenas pode coexistir com a memória, coabitam o mesmo espaço e partilham idêntica agonia. Se nada resta na reminiscência, nada resta para esquecer.
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